Monday, July 11, 2011

O Larápio

Pois é... Hoje de manhã fui alvo de mais uma inebriante experiência de
vida, a de se ser assaltada. O choque é de um impacto brutalmente
estúpido. Felizmente para mim, a tragédia não incluiu dor física. O
sofrimento vem da incredulidade da situação e do sentimento de vazio
que emana da invasão do espaço privado de um lar. Certamente que há
lições a tirar disto tudo. Coisas práticas desde como evitar este tipo
de incidentes ao processo a seguir para tentar recuperar o q quer que
seja que se perdeu. Portátil, mochila, carteira com documentos, cd de
jazz e a sensação de segurança e confiança, no meu caso.Até a gata
está mais calada hoje... Por alguma razão parece compreender o meu
sentimento de perda e carinhosamente deixa-se ficar menos agitada,
irrequieta e brincalhona e não se importa quando lhe afago o pelo e a
encosto a mim numa tentativa de encontrar algum conforto. O resto do
dia vai ser passado em casa, à espera da versão irlandesa do csi. Em
tempo útil faço um update. Por agora vou aprender a viver sem música
ou series...

Wednesday, June 1, 2011

O jardim

Por acaso ando com vontade de escrever textos mais folclóricos e de carácter fictício do que histórias da vida real numa Irlanda atulhada de dívidas que ata as mãos à cabeça e chama pelo "Jaysus!". Esquecendo todas estas vicissitudes de uma altura da vida menos economicamente feliz. Mas passando à frente que atrás vem gente....
Graças à Pipoca, que me deu o enorme prazer de vir de Londres a Dublin, esqueci os problemas por breves momentos (tirando a gata que me acorda às 5.30 da matina porque se sente só e precisa de companhia) e deixei-me apaixonar por um cenário idílico literalmente saído de filmes de Hollywood. Welcome to Wicklow...

Saturday, April 30, 2011

Música Maestro

Enquanto faço uma pausa da minha escrita construtiva para fins académicos (só para terem uma ideia, sinto-me culpada pelo genocídio de uma família de árvores, atendendo à quantidade de papel que me rodeia e na qual estou profundamente mergulhada), achei que era bonito falar acerca de um grande homem (1,72 m) que me inspira muitas vezes sem saber e do qual tenho muito orgulho. Para a maior parte das pessoas ele é "Carlos" ou "Pereira" ou a conjução de ambos os nomes. Eu prefiro chamar-lhe "Papi" ou "Papá".
Eu sei que amanhã é o dia da Mãe e não do Pai mas achei por bem inverter as coisas e sair do contexto habitual do calendário. Cliché? Talvez... mas isso serão sempre outros a julgar, para mim é apenas um momento oportuno para ser "filha do pai".
Há uns dias atrás, durante uma das nossas curtas e concisas conversas telefónicas, o meu pai pergunta-me "Então, já foste ao site?", "Que site?" perguntei eu, perfeitamente consciente que as aventuras do meu pai na internet são, por norma, sob a supervisão e tutela de uma mãe mais experiente nestas coisas da "internet". "O da paróquia! Fui entrevistado!". E pronto, foi o suficiente para uma reconciliação momentanea com as minhas raízes católicas e lá fui eu ler a entrevista.
Disse-lhe que o fiz, obviamente, e que achei "porreiro" e que ficou "bonito nas fotografias"... Mas talvez tenha omitido a parte mais importante. Não lhe falei do orgulho e admiração que tenho por ele e que alimento no segredo da minha reclusão Dublinense.
O meu pai é, em muita coisa, um self made man. De uma forma muito resumida, que 53 anos de história e estórias dão muito que falar... O Sr Carlos não recebe um ordenado chorudo mas é um trabalhador dedicado. Quando conta uma anedota rimo-nos mais com as suas gargalhadas do que com a piada em si. Tem um coração maior do que o mundo e há sempre espaço para ajudar mais alguém. E é Maestro... sem formação musical, com uma guitarra e um órgão em casa que acho que ainda não sabe tocar, mas muita, muita vontade de aprender. Agora lê pautas, e com os óculos na ponta do nariz, foi ensaia cânticos e dirige o coro há já 7 anos.
Moral da história: muitas vezes não nos tornamos naquilo que queriamos, mas o destino leva-nos a lugares onde não esperavamos estar; no fim acabamos por gostar, adaptamo-nos e ficamos como peixe na água.
Ao meu pai, Maestro de coros, de histórias e impulsionador da minha mudança ao acreditar num recorte de jornal numa manhã de Junho, obrigada.


Para os curiosos aqui fica o dito cujo "site":
http://www.paroquiadamaia.net/site/artigos/2011/0012/

Tuesday, March 29, 2011

let it be

Ontem, por acaso ou talvez não, uma amiga indiana convidou-me para ir a um concerto da escola da filha... Como gosto de "canalha", fui (mesmo depois de um turno de 12 h que me deixou o cabelo todo rameloso, mas não interessa). Apesar de ter chegado atrasada e ter perdido a cachopa a cantar, fiquei até ao fim para ouvir o medley dos beatles. Muito, muito bom... Uma delas foi esta música e como tive um momento "ah ah" achei que devia partilhar estas coisas com o povo, numa de relax, peace, love and prospetity.
P.S. - nada como um sorriso desdentado ou dois para nos mostrar que vale a pena.

Saturday, March 26, 2011

Canvas

Canvas é a palavra inglesa para designar "tela". Gosto de pensar que aidna tenho tinta que chegue para desenhar e colorir muitas telas... Às vezes, mesmo sem querer, sem qualquer tipo de intencionalidade, revejo o meu reflexo numa abismo de pensamentos negativos e sufocantes. No bréu da noite, na escuridão dos meus pensamentos e sentimentos mais profundos, naquela lagrima seca que fica pendurada no coração e estreita a garganta, por vezes renasce algo que não esperava... esperança, energia, garra e graça de viver. Vamos lá ver se consigo atirar toda a tinta que puder para a minha tela negra...

Wednesday, March 16, 2011

Um dia destes hei-de escrever um post acerca de senhorios e das vicissitudes do arrendamento mas esse dia não será hoje (demasiado irritada com a atitude do actual senhorio). Falemos de IRS (ou será IRC).
A minha especialidade não é, definitivamente, a contabilidade ou gestão de empresas. O ano passado tive de fazer o registo como tendo uma empresa para dar aulas de massagem infantil e passar recibos... mas foi sol de pouca dura. Entretanto começou a pós graduação e os meus momentos de felicidade entre gargalhadas maternais e balcuciares imcompreensiveis de bebés acabaram rapidamente. Total: pouca entrada de dinheiro mas muita saída no que foi, certamente, um não muito bom investimento monetário.
Chegada esta altura do ano, há que pensar que tenho de apresentar os formulários até outubro... Faço a inscrição no site e, passadas várias etapas de códigos, recebo em casa o formulário 11E, mais longo que sei lá o quê e do qual não percebo patavina. Será que eles não podiam fazer as coisas mais fáceis, juntar instruções com linguagem simples ou reduzir o tamanho da coisa? Não. Mandam um folhetinho em que a explicação de um conceito contém em si esse mesmo conceito, pelo que acabo por perceber a mesma coisa, ou seja, nada de nada.
Pensando bem, acho que vou pegar na papelada toda e investir num contabilista em vez de investir em comprimidos para a enchaqueca. Maldita burocracia que por toda a parte te ocultas!

Friday, March 4, 2011

Bad News...

Quando eu era miúda o meu objectivo de vida era ser grande, crescida. Definitivamente não fazia ideia das complicações que isso traria, da quantidade de vezes que não iria andar de baloiço ou ir até à praia sentir a areia entre os dedinhos dos pés. Nada sabia acerca de responsabilidades, ou do facto de que haveria sempre alguém a coordenar os meus passos, que eu não seria completamente "D. de Mim" ou "Sra. do Meu Nariz".
Eu era o trambolho da casa... com as minhas histórias estapafúrdias acerca de pessoas inventadas na minha cabeça, numa estranha tentativa de entrar nas conversas dos adultos no horário nobre das refeições. O meu pai sorria e olhava para mim como se cada palavra fosse verdadeira (ainda hoje faz questão de me recordar disso) e nunca ninguém contrariou as personagens fictícias que eu conscientemente criava.
Lembro-me de uma frase num dos meus diários que dizia "Memories may be beautiful and yet what is to painful to remember, we simply choose to forget" (As memórias podem ser bonitas mas mesmo assim escolhemos esquecer o que é demasiado doloroso). Isto tudo para dar o mote aquilo que me levou a escrever este texto. Quando o meu avô morreu eu tinha 7 anos. Lembro-me das hermezetas que lhe colocava no café (por ser diabético), dos passos curtos (cortesia do Parkinson) e do cabelo escuro, bem colado à cabeça, que alinhava com um vulgar pente de plástico castanho. Depois do meu avô seguiram-se outros, e com o passar do tempo a dor de perder alguém não diminui, apenas se tornou diferente.
Há uns dias atrás descobri um novo tipo de dor... Não lhe posso dar um nome, nem me vou atrever, mas posso dizer-vos que não há nada pior do que perder um filho. Quando me meti nesta coisa de ser enfermeira, devia saber que nem sempre seriam só os velhotes a morrer. Essa seria, certamente, a ordem natural das coisas. A maior parte da minha família e amigos muitas vezes me pergunta como é que eu consigo lidar com miúdos que pesam menos, ou pouco mais, que 1kg de arroz... Eu sorrio e respondo que a maior parte das vezes as coisas até acabam bem, que observar e fazer parte da ligação especial que se estabelece entre pais e filhos é algo mágico. E é verdade, sinto o que digo.
Mas não há nada pior que perder um filho... Ver os sonhos, a esperança e o amor despedaçarem-se num só segundo quando alguém telefona do hospital e diz "Preciso de falar consigo. Temo que tenha más notícias". A dor é cortante, mesmo para aqueles a quem ela não pertence por direito. Então apercebo-me da parte mais difícil do trabalho... ver e sentir a dor de outrem, tentar ajudar e apoiar, estar presente mas dar espaço para a privacidade, e não saber como fazer tudo isto de forma correcta.
Não, este não é um texto leve, alegre ou jovial. Contudo, e como diriam os meus antigos professores de enfermagem, a morte é parte do ciclo da vida e devemos arranjar espaço para falar abertamente sobre ela. Certamente que não a faz desaparecer, mas talvez nos ajude a lidar melhor com quem sofre com a sua chegada...

Monday, January 17, 2011

TAESJ - De mais Ninguém Portugal no Coração

Oh boys... se vocês soubessem como a vossa música e boémia faz falta. Um dia, se vos vir a cantar em Grafton street, em vez de moedinhas serão notas de 50 euros. :)

Sunday, January 16, 2011

How it all started...

Há alturas em que pensamentos vindos de nenhures saltam à minha frente de surpresa e me dão que pensar durante trajectos (aulas-paragem do autocarro, trabalho-casa a pedais, jogging matinal ao som de Florence and The Machine). Como desconheço se sofrem ou não deste fenómeno, resta-me explicá-lo aos pouquinhos nas minhas teorias escaganifobéticas-do-arco-da-velha-de-que-nem-o-coelhinho-da-páscoa-se-lembra.
Entonces foi assim...
Uma bela tarde de Janeiro, algures em Cork Street, pensei de mim para comigo: Será que a emigração tem componente genética? Claro, nada do que levou à formulação deste pensamento começou com uma base científica mas mais como um estudo de caso familiar. Os meus avós maternos foram para a Venezuela para tentar arranjar patacas que ajudassem a criar os 5 filhos. Regressaram às origens. O Papi decidiu emancipar-se cedo (tipo, antes dos 18) e foi para o País Basco. Regressa às origens e muitos anos mais tarde torna-se camionista e salta pela Europa durante cerca de 10 anos. Entre tios directos, tios dos pais e primos (sim, que a família tem mais ramos e galhos que um velho carvalho), todos saltitam e saltitaram de nenúfar em nenúfar, de país em país, à procura de uma vida melhor... ou simplesmente diferente.
Então eu penso... Se calhar o mais natural é ser nómada, não ter terra fixa, ser levado pelo vento (ou por um avião).
Se bem me lembro das minhas aulas de história, os primeiros habitantes deste calhau nunca paravam muito tempo no mesmo sítio. Procuravam comida e abrigo, melhores condições de vida, portanto. Um dia, acharam que era melhor dedicar-se à agricultura e pastorícia: talvez as raízes não fossem má ideia e isso lhes proporcionasse maior estabilidade. Muitos séculos dramas e invençoes depois, aqui estamos nós, seguindo padrões de vida que achamos tão próprio e tão nossos mas que, na verdade, existem desde a altura em que alguém deve ter sentido "Eureka" quando inventou a roda.
Ah... enão esquecer os Descobrimentos e aquela vontade toda de conquistar. Cá para mim, em vez da vontade de evangelizar os infieis (um aparte... hoje tive testemunhas de Jeová a tocarem à campainha, mas acho que já não tenho salvação), eram movidos pela vontade de ver algo novo, por sentirem a mudança e enfrentarem o desconhecido. De uma maneira ou de outra, arranjamos maneira de canalizar e expressar a nossa necessidade de ser nómada, de nunca parar muito tempo no mesmo sítio.
O que me leva a pensar... Será que criar raízes é algo mau e contra natura ou será apenas mais um degrau no processo de repetição cíclica e histórica?
Agradecem-se pensamentos, sentimentos e insights no assunto. Até prova em contrário, eu sigo o meu código de barras genético.

Atchoo

Ai ai... Eu bem que queria que o título fosse alusivo a um dos 7 anões da Branca de Neve (a da Disney, não a farinha) porque seria sinal de mais uma das minhas fantásticas metaforas e analogias que não fazem qualquer sentido à maior parte dos comuns mortais. Mas não, é bem mais simples do que isso.
Ao contrário de um mito urbano no qual os profissionais de saúde não ficam doentes, aqui a "je" está rodeada de lenços de papel, alapada no sofá a ver séries televisivas de manta pelos joelhos e caneca de chá na mão (gengibre, limão e canela seria o ideal...). Ah, pois é, a enfermeira ficou doente. E agora, quem cuida de mim? Há uns anos atrás teria a Mrs RP a tratar-me da saúde: "Queres canjinha? Eu vou aquecer-te uma caneca de leite. Toma o Cêgripe." Mas a independência e a emigração não estou livres dos seus "senões" e alçapões de rede social: os amigos trabalham ao fim de semana ou foram para a casórios no Brasil. Assim sendo, resta-me continuar de molho ou no choco (como preferirem), a sobreviver com as minhas próprias mezinhas caseiras e com paracetamol 1g. Também já me disseram para comer alho... No entanto, a minha vontade de matar os seres vivos que me rodeiam num raio de 300m é pouca. Além disso, apesar de as minhas papilas gustativas e nódulos olfactivos não estarem no seu melhor, ainda funcionam.
De qualquer maneira, o tempo livre (usado na "cura" desta verdadeira bodega) vai servir para assentar a minha teoria de migração, genética e movimentos nómadas, que espero partilhar dentro de breves... herrrr... semanas, vá.
Até lá, que Deus me abafe (agasalhe vá), que São Brás me tire a tosse (o catarro e a rouquidão) e os Santinhos todos levem daqui o espirro.

Tuesday, January 4, 2011

Another version


Em conversa com um amigo há uns dias atrás, dei comigo, inevitavelmente, a pensar em todas as mudanças que 3 anos de emigração proporcionam. Há alturas em que tudo é amado e desejado: a instabilidade do clima Irlandês, os double deckers azuis e amarelos, a multiculturalidade da multidão, os cafés e meias de leite em copos de papel (soja como opção), os pubs com a sua madeira velha e coçada e inúmeros sinais e placas metálicas na parede, o frio cortante nos meses de Inverno que dá brilho à boémia citadina. Mas nem sempre vivemos em clima de lua de mel... às vezes é mesmo lua de fel. Olhamos ao espelho e notamos a palidez resultante da fraca exposição solar, sentimos falta de dar 60 cent que seja por um café decente, não ouvimos as gargalhadas que nos são familiares, todos são estranhos e o que outrora era a nossa rotina, passa a memória saudosista de algo que se perdeu na viagem.
Mas... lá está, a mudança é algo tao natural como o ar que entra em cada inspiração e nos abandona ao expirar.
Quem conhece a versão original desta música sabe que é completamente diferente... Esta versão é mais suave, intimista. E talvez seja possivel establecer o paralelo entre a música e... bem, a emigração. Quando tomamos a decisão consciente de sermos os mesmo noutro lado, não deixamos de ser quem somos, a essência é a mesma. Mas, naturalmente, adaptamo-nos e criamos uma versão diferente de nós mesmos, mantendo a identidade original.
A música Summertime, dos irmãos Gershwin, mantém o record de maior número de covers no mundo inteiro. Poderia ter ido por aí... mas acho que "in for the kill" descreve melhor o que é largar tudo e mergulhar de cabeça em água gelada.