Sunday, March 23, 2008

Happy Easter!!!

Hoje ainda é dia de Páscoa.
À partida esta simples afirmação/frase pode parecer um pouco descabida para o mais comum dos mortais: porque é algo tão simples que parece quase ridículo, porque não tem sentido para outros, porque é um dia de trabalho como outro qualquer...
Para quem está longe, como eu, é mais um dia longe da família e do país de origem, longe das tradições, das cores, dos cheiros, das memórias e rotinas que caracterizam o ano e dão um marco temporal às coisas. Por isso esta Páscoa é diferente... Não há o eco de sinos festivos no ar ou túnicas brancas a flutuar ao vento; não cheira a feno, cera de abelha ou pão-de-ló; não há amêndoas cobertas de açúcar com aroma baunilhado ou coloridas drageias de licor em formato de feijões, morangos, bebés ou pombas; não há roupa a estrear ou as conversas animadas da minha família (pais, avó, tios); não há a visita da "madrinha" ou as gargalhadas das Piscas quando se penduram no meu pescoço. A todo este sentimento de suposto vazio, os Portugueses chamaram um dia de "saudade".
No tempo da velha Glória, quando o mundo parecia pertencer a apenas dois países (Portugal e Espanha), muitos partiram em navios e naus à procura de um "Vale Encantado". Mais de 500 anos volvidos a tradição já não é o que era mas o movimento de pessoas e bens não mudou: agora é mais o avião.
De qualquer forma, nem tudo foi melancolicamente triste no dia de hoje. Criamos novas amizades e novas... tradições. Eu, o Artur, a Ana e a Marta decidimos dar continuidade às coisas, juntamo-nos aqui em casa e almoçamos todos juntos. E assim se fez a festa, entre risos, piadas secas (mea culpa), frango assado, crumble de maçã, bolo de chocolate e Mateus rosé. Contaram-se estórias de enfermeiros entre enfermeiros (às vezes é giro), discutiu-se o tempo, o movimento nas ruas, os autocarros e os meus dotes culinários... E quando eles se foram embora (porque amanhã é dia de trabalho), a luz do dia tornou-se um pouco mais vaga e difusa e o calor da partilha e da comunhão pareceu escapar pelas frinchas das portas e das janelas...
Mas são todas estas memórias, mais antigas ou recentes, que dão força para continuar. Os e-mails da família que se lembra de nós e faz questão de marcar presença em dias "marcantes".
E de tudo isto se faz um arco-iris(h): a ponte entre o passado e um futuro presente.

Friday, March 14, 2008

[Original: Sábado, 09-02-2008]



Está um dia bonito em Dublin: o sol brilha, o ar está fresco e relativamente limpo... respirável, vá. É Sábado e, portanto, o nó de carros e autocarros por m2 (metro quadrado) diminui. Aumenta o nó de pessoas em passo de "ver montras" ou "apreciar a paisagem", assim como o número de artistas e bancas de rua nas principais avenidas comerciais. Acho que este movimento menos frenético suaviza os traços da cidade e a torna mais convidativa. [Aviso: Se quiserem tossir, não metam uma colher de sopa na boca; o resultado pode ser bocados de cebola no nariz]
Uma vez que deixei o caderno das "sagradas escrituras" no hostel e os papéis que carrego religiosamente atafulhados na agenda já estarem sobrecarregados de sarrabiscos, tive de recorrer a um velho amigo para dar base de sustentação às ideias (e à tinta da caneta, claro está): o Guardanapo de Papel. Pergunto-me se isto seria apanágio de algum escritor famoso... Não que isso me fizesse sentir superior ou inferior, apenas curiosidade e simpatia por hábitos partilhados.
Os textos em guardanapo são diferentes: Espera-se uma esperança média de vida menor, dada a fragilidade do papel... Pensamentos parafilosóficos à parte (será que esta palavra existe?), era suposto escrever umas linhas sobre o que se está a passar por cá.
Falha até agora: tantos Pratugueses (sim, acho que é uma nova raça/espécie/estirpe de pessoas de nacionalidade portuguesa) e não há loja Portuguesa por cá? Isso era uma coisa gira para se colmatar...
A malta gosta de comer de envelope, de levar no pacote e trabalhar para o crescimento lateral (expressões para: sanduiches, take-away ou come em casa e obesidade). Não admira que precisem de enfermeiros... Confesso que em dias de preguicite aguda (essa terrível maleita sem cura possível) e de melancolia vegetativa, tudo isso é óptimo. Pelos vistos a mistura de gorduras saturadas e de açúcares de absorção rápida tem um efeito momentaneamente positivo no humor.
A sexta feira parece ser o dia da doidivanice. A gera sai aos magotes para o pub mais próximo para emborcar umas valentes pints de Guinness (só ainda não descobri para onde vai a "canalhada").
Feias, bonitas, jeitosas, esqueléticas, a fazer publicidade aos pneus Michelin ou "assim-assim", as miúdas/mulheres adoram o vulgo "cinto" português: brutas mini-saias que revelam muito (ou quase tudo) acerca das pessoas que as vestem. Calma... Uma boa mini-saia nunca feriu os olhos a ninguém (muito menos ao sexo masculino), mas decerti concordam que há PERNAS... e pernas. Talvez a piada estivesse em que moçoilos quisessem descobrir o produto e não mostrá-lo logo de uma só vez.
Pelo andar da carruagem este pessoal vai precisar de fígados e vasos sanguíneos novos muito brevemente. Nada de anormal e extraordinário se pensarmos que este é o cenário na grande maioria dos países europeus.
Enfim... Acho que gosto disto; é divertido (por agora).