Monday, April 12, 2010

They will never get it

Enquanto começo a carregar nas teclas do portátil sinto tudo o que quero dizer mas, por alguma razão para além do meu controlo, acho difícil colocá-lo em palavras.
Como se pode expressar "o amor" em palavras? Perde-se a conta aos que já o tentaram fazer através de poemas, e dissertações e mais o diabo a quatro para, no fim, ficar sempre a sensação de espaço vazio, de algo por dizer.
A maior parte de vocês (que não sou muitos mas gosto de acreditar que são bons) sabem que adoro o meu trabalho. Talvez porque trabalhar com bebés, famílias e fragilidades seja algo quase inato, uma sensibilidade que gosto de acreditar que tenho. Ou então talvez goste apenas da sensação de poder e de me sentir como uma entidade protectora capaz de salvar, ressuscitar e dar vida (tipo Deus, os anjos e os arcanjos e os santinhos milagreiros).
Talvez o amor esteja na culpa que uma mãe sente quando não tem leite suficiente para os seus trigémeos e tem de escolher o que está mais doente como receptor de tal poção mágica em detrimento dos outros dois (e não gozem porque o leite da mãe é e será sempre o melhor entre os melhores). E, por isso, não descansa, e divide-se entre os dois hospitais por onde estão repartidos os filhotes. E a cada 3h, dia ou noite, senta-se pacientemente a esvaziar o leite da mama para uma garrafinha com ajuda de uma bomba electrica.
Talvez o amor esteja naqueles que nunca desistem; que acreditam que o seu rebento que nasceu às 25 semanas com menos de 1kg e demorou mais de 2 meses a respirar sem ventilador se vai ver livre das maquinetas brevemente, adquirindo uma cara menos deformada, semelhante à Doris do filme "À Procura de Nemo".
Talvez o amor esteja nas pequenas grandes etapas do crescimento, aquelas que fazem os pais dos "meus" pequenotes sorrir: ele hoje conseguiu respirar 3 horas sem oxigénio; bebeu 30ml do biberão; hoje à noite vamos tirá-la da incubadora e colocá-la no berço com body, babygrow e gorro na cabeça.
Talvez este tipo de amor não vos diga nada.
Talvez até achem que eu não sou capaz de me acalmar e falar tranquila e serenamente com pais.
Talvez acreditem piamente que o amor é aquela adrenalina maluca que acontece quando "botamos as vistinhas" numa garina/gajo jeitoso, ou quando trocamos uns ósculos ou quando o coração palpita como uma batata frita.
Eu acho que o amor, como alguém me disse há uns dias atrás, não se explica ou contabiliza e não é muito racional - é porque é! Sabemos apenas que nos preocupamos, que gostamos daquela pessoa, que davamos a medula, o rim, o pulmão, o intestino e toda a nossa vida por ela. Sabemos apenas que a dor dela é a nossa dor; que já estamos em sofrimento por ela mesmo quando ela ainda não sofre; que a alegria das conquistas dela é também nossa.
É algo de tão profundo e tão intenso que não dá para explicar...
E talvez nenhum de vocês venha alguma vez a perceber este texto. E muito provavelmente ninguém percebe o amor mas já o sentiu uma ou outra vez.

1 comment:

Carla Matilde said...

Simplesmente lindo! Realmente ninguém compreende o que é o amor, acontece simplesmente! Mas os exemplos que deste, se não são amor, são o quê?!
beijinhos
Carla Matilde